Por Morgani Guzzo*
Publicado em junho de 2024, o livro “Mulheres na Ciência: O que mudou e o que ainda precisamos mudar” (Oficina Raquel, 2024), reúne artigos e entrevistas de cientistas brasileiras que abordam a desigualdade de gênero no ambiente científico.
Disponível gratuitamente através do link: https://mulheresnaciencia.org ou para compra pelo site da Livraria da Travessa, o livro terá seu lançamento no dia 9 de julho de 2024, às 19h, com entrevista com Letícia de Oliveira, Tatiana Roque e Ynaê Lopes. O evento ocorre na Livraria da Travessa (Av. Afrânio de Melo Franco, 290. Store 205 A. Leblon), no Rio de Janeiro.
“O livro nasceu a partir da nossa vontade de compartilhar nossas reflexões e discussões sobre a falta de diversidade na ciência brasileira. As organizadoras e autoras têm experiência tanto em estudos sobre gênero quanto em atuação em projetos que tentam mudar a realidade desigual da ciência”, diz Letícia Oliveira, uma das organizadoras da publicação. “Outra motivação importante foi a criação de um livro-movimento, um livro em construção que contará com a participação coletiva de outras mulheres”.
Letícia Oliveira, que é docente e participantes da Comissão Permanente de Equidade de Gênero da Universidade Federal Fluminense (CPEG-UFF) assina a organização do livro junto com Tatiana Roque, professora do Instituto de Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e primeira mulher secretária de Ciência e Tecnologia do município do Rio de Janeiro.
A obra começa com uma entrevista com a professora Hildete Pereira, do Departamento de Economia da UFF — “uma das feministas mais importantes do Brasil”, nas palavras de Oliveira. Já demais capítulos tratam sobre o estado da arte quanto à equidade de gênero; os estereótipos de gênero e raça socialmente construídos; o impacto da maternidade na carreira de mulheres cientistas; as intersecções entre gênero e raça, com foco em mulheres negras, e os desafios enfrentados pelas mulheres inseridas nos campos das ciências exatas e tecnológicas. Além da edição publicada, que pode ser comprada aqui, uma segunda está prevista para ser lançada.
Assinando o capítulo “Como diminuir as desigualdades de gênero e raça na ciência? Enfrentando o viés implícito socialmente construído”, Karin da Costa Calaza, vice-presidente da CPEG-UFF e professora do Departamento de Neurobiologia da UFF, afirma que a obra “é uma oportunidade de democratizar uma discussão importante como o viés implícito e a ameaça pelo estereótipo”.
Segundo a docente, a equidade almejada na academia só será possível com a democratização da ciência, dependendo também da diversidade e inclusão de grupos sub-representados no meio científico, como mulheres, pessoas negras e pessoas que se identificam com diferentes identidades e expressões de gênero. A baixa presença desses grupos nas discussões científicas e tecnológicas, segundo ela, gera prejuízos para o avanço da ciência. “Tomando como exemplo a Inteligência Artificial, tema em ascensão e com potencial de revolução enorme em muitos campos da nossa sociedade, vemos a descrição de muitos problemas de vieses que aparecem por falta de um ponto de vista dos grupos sub-representados”, analisa Karin.
Para além da baixa inclusão, a pesquisadora também lembra outras questões que atravessam as trajetórias acadêmicas desses grupos sociais. A distribuição desigual do trabalho do cuidado e o assédio — desde microagressões até violência sexual — são desafios específicos que as mulheres enfrentam, ainda mais se considerados os diversos marcadores sociais que atravessam essa identidade de gênero. “É praticamente impossível desenvolver a completa potencialidade da mulher no ambiente de estudo e de trabalho pelas suas diferentes experiências negativas, desde as mais sutis até as mais violentas, que os homens não enfrentam. A equidade depende de um ambiente justo, onde todos, todas e todes têm as mesmas oportunidades. E a ciência, assim como a sociedade, ainda está longe de alcançar”.
* Com informações da matéria de Francielly Barbosa – Assessoria de Imprensa/Site da UFF.