Por Morgani Guzzo e Pedro Ordones
STEM é um acrônimo em inglês para “Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática”, cuja origem é a política educacional dos Estados Unidos dos anos 1990, que se voltava à educação de jovens em áreas do conhecimento consideradas “estratégicas” para o país, cuja demanda havia aumentado na época e para as quais havia quantidade insuficiente de profissionais qualificadas. Os investimentos voltados para essas áreas envolvia a formação desde a pré-escola até o pós-doutorado e se destinavam, também, aos grupos chamados “sub-representados” – e, entre eles, as mulheres, que, apesar de serem metade da força de trabalho nos EUA, representavam um quarto dos trabalhadores nestas áreas.
O foco nessas áreas nos EUA acabou influenciando outros países, e o acrônimo STEM passou a ser usado em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, onde estudo da Unesco mostrou que as mulheres, embora representassem 45% da força de trabalho formal no país em 2018, somavam apenas 26% das profissionais nas áreas STEM
Atenta a essas desigualdades, a pesquisa intitulada “Inclusão de mulheres em STEM: reflexões a partir das matemáticas no Brasil e na França”, realizada por Gabriela Marino Silva no Programa de Pós-graduação em Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), busca refletir como foi o ingresso das mulheres nessas áreas e por quê a sua presença ainda é minoritária no campo das STEM.
Assista a apresentação completa de Gabriela no Youtube.
Estereótipos de gênero limitam acesso das mulheres nas áreas STEM
“Pesquisas mostraram que, mais ou menos a partir dos seis anos de idade, as meninas passam a reproduzir a concepção de que ser inteligente é uma característica dos colegas meninos e não delas mesmas, enquanto os meninos crescem se identificando com essa característica”, explicou a pesquisadora durante a terceira sessão do seminário do Observatório Caleidoscópio, do Observatório Sul-Sudeste, que ocorreu online no dia 28 de junho, em plataforma on-line. Reflexo dos estereótipos de gênero, Gabriela apontou dados de pesquisas que mostram que as mulheres que atuam nas áreas das ciências “hard” também relatam não se sentirem pertencentes a essa comunidade.
Dentre as hard sciences, a área das exatas, como a matemática, a física e as engenharias, é uma das mais abrangentes das ciências e, também, a que conta com o menor percentual de mulheres desde a graduação. De acordo com levantamento de dados realizado pela Organização das Nações Unidas, as mulheres representam cerca de 35% dos acadêmicos matriculados em cursos das STEM e, quando levamos em conta as engenharias, esse número é ainda menor, chegando a 28%.
“As ciências exatas são áreas cuja a baixa proporção de mulheres é histórica, com pouca participação feminina. Isso pode ser um dos fatores que talvez tenha blindado tais áreas das análises críticas quanto às questões de gênero”, comentou a pesquisadora.
Com foco nas mulheres na Matemática no Brasil e na França, Gabriela estuda a criação de redes, associações e coletivos de mulheres matemáticas e sua importância tanto para influenciar políticas na área da Ciência quanto para o seu processo de pertencimento à área enquanto mulheres. A criação de prêmios específicos, o financiamento de projetos de pesquisa de mulheres e o reconhecimento de pesquisadoras na área são ações que podem impactar no maior interesse de meninas e mulheres por esse campo do conhecimento, além de potencializar o desenvolvimento de suas carreiras.
Gabriela Marino Silva é mestra em Educação e possui bacharelado e licenciatura em Ciências Sociais pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP, além de ter integrado a linha de pesquisa “Trabalho e Educação”, o Grupo de Estudos e Pesquisa em Diferenciação Sociocultural (GEPEDISC) e fazer parte, atualmente, do Laboratório de Estudo Sociais de Ciência e Tecnologia (LABESCT).