Entre os dias 2 e 6 de setembro de 2024, a pós-doutoranda do Observatório Sul Sudeste do INCT Caleidoscópio, Lia Gomes Pinto de Sousa, participou do XXVII Encontro Estadual de História da ANPUH-SP: História, por que ainda falar sobre isso?, que foi realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Com o trabalho “Genealogia intelectual de mulheres nas ciências: indicadores e trajetórias à luz do Observatório Caleidoscópio”, Lia apresentou comunicação oral no ST 23: Reflexões sobre a História das Ciências e da Saúde no Brasil: agentes, objetos e acervos em sua pluralidade (séculos XIX a XXI), coordenado por Henrique Sugahara Francisco, do Centro de Memória/Instituto Butantan, e Isabella Bonaventura, da Universidade de São Paulo.
A pesquisa de Lia visa refletir sobre os impactos da atuação das primeiras pesquisadoras do Instituto Oswaldo Cruz, que ingressaram na instituição em meados do século XX, na consolidação e expansão de suas áreas científicas, bem como na formação de novas gerações profissionais – atravessando décadas até a atualidade. A comunicação traçou uma análise quantitativa e qualitativa a partir da trajetória de três pioneiras da Botânica e da Helmintologia que, por meio de relações formais de orientação, deram origem a quatro gerações de cientistas até os anos 2020. A pesquisa contou com o cruzamento de fontes arquivísticas e orais, além do uso da Plataforma Acácia, ferramenta que sistematiza dados oriundos da Plataforma Lattes/CNPq.
Segundo a pós-doutoranda, as pesquisadoras analisadas tiveram papel fundamental no desenvolvimento da palinologia, ecologia, microscopia eletrônica e parasitologia, trabalhando com temas e técnicas ainda emergentes em sua época.
“A morfologia do pólen do cerrado, a incidência de helmintos parasitos de peixes e a taxonomia de trematódeos e nematódeos foram seus pontos de partida. Os desdobramentos de suas atividades de mentoria, no nível de Mestrado, Doutorado e pós-doutorado, evidenciam a influência multidisciplinar, alcançando, para além das Ciências Biológicas e da Saúde, as áreas Humanas, Agrárias, Exatas e da Terra e Engenharias – como história ambiental, arqueologia, geologia, engenharia química e sanitária, biotecnologia, recursos pesqueiros, tecnologia de alimentos, nutrição e fisioterapia, por exemplo”, explicou.
Outro importante impacto observado foi a formação de uma descendência majoritariamente feminina, composta por cerca de 70% de mulheres.
“O trabalho complexifica nosso entendimento sobre a conformação de setores do campo científico brasileiro, lançando luz à participação ativa de mulheres nas ciências no passado e no presente. Aliando estratégias oriundas da cientometria e do estudo de trajetórias, investigo indicadores e processos históricos que demonstram o potencial da atuação feminina e sua importância na formação de recursos humanos e na reprodução institucional da ciência”, relatou Lia.
Por outro lado, a pesquisa instiga a problematização acerca do perfil interseccional de tais agentes, os fatores que favorecem experiências exitosas e os diversos mecanismos produtores de assimetrias de gênero, ainda existentes.
Além da pós-doutoranda, o ST também teve a participação de historiadoras/es, museólogas/os e pesquisadoras/es de outras áreas, que abordaram aspectos da história das ciências e da saúde sob a ótica de agentes não humanos, circulação do conhecimento, atores invisibilizados e gênero.