Por Morgani Guzzo e Pedro Ordones
Vários estudos têm apontado o crescimento da presença das mulheres em várias áreas da ciência e em diferentes âmbitos profissionais antes ocupados somente por homens. Um exemplo disso é a área da Ciência da Terra ou ciências do solo. De acordo com levantamento realizado pela CropLife em 2022, a participação das mulheres na produção agrícola teve aumento de 8,3% em 2018, e esse aumento se deve à necessidade de maior qualificação superior para assumir determinados cargos, quesito que as mulheres se destacam com relação aos homens.
Pesquisas como a intitulada “Mulheres na ciência do solo no Brasil: um recorte histórico acadêmico e profissional”, da gestora ambiental Beatriz Wardzinski Barbosa, buscam tratar da presença das mulheres nesta que, segundo aponta a pesquisadora, é a área das Ciências Agrárias com menor atuação de mulheres historicamente.
“O objetivo da minha pesquisa foi realizar o primeiro levantamento demográfico da ciência do solo brasileira, com foco na composição de gênero ao longo do tempo em diferentes níveis acadêmicos e profissionais, assim como no reconhecimento entre pares”, afirmou a pesquisadora em fala na quarta sessão do Seminário do Observatório Caleidoscópio, que aconteceu de modo on-line, no dia 22 de agosto. O evento é realizado mensalmente pelo Observatório Sul-Sudeste do INCT Caleidoscópio – Instituto de Estudos Avançados em Iniquidades, Desigualdades, e Violências de Gênero e Sexualidade e suas múltiplas insurgências.
Acesse o gravação da apresentação de Beatriz no nosso canal do Youtube:
Pesquisas com enfoque em gênero e diversidade são recentes
Em sua pesquisa, Beatriz analisou as publicações sobre estudos de gênero dentro das Ciências Agrárias, a fim de compreender a diversidade demográfica nesta área. “O único estudo que abordou sobre etnia e raça mostra que a ciência do solo é uma das piores em questão de diversidade e fica muito atrás de outras disciplinas das Ciências Naturais e da Terra”, comentou.
Com sua tese, a pesquisadora identificou que 66% dos estudos com enfoque em gênero foram publicados em um período de 10 anos, entre 2012 e 2022, sendo que metade dessas publicações são de 2016 em diante, mostrando que as discussões de gênero são bem recentes.
Neste levantamento, Beatriz identificou que são poucos os estudos que mostram as tendências demográficas na área, sendo que apenas três estudos demográficos que enfocam na questão de gênero, nenhum deles no Brasil. “Aqui no Brasil a gente não tem nenhum estudo demográfico e nem de gênero. Inclusive o debate desse assunto dentro da ciência do solo é inexistente. Então, este foi o primeiro estudo deste tipo no país”, demonstrou a pesquisadora.
A análise da presença das mulheres nos programas de pós-graduação em ciência do solo no Brasil demonstrou que elas, hoje, são a maioria, as que menos desistem de suas formações e estão quase em paridade no nível de titulação em relação aos homens. No entanto, persiste a desigualdade de gênero entre docentes no ensino superior, nos cargos de gestão nos programas de pós-graduação e no mercado de trabalho como um todo.
Como resultado da pesquisa, portanto, Beatriz fez recomendações para programas de pós-graduação e para a Sociedade Brasileira de Ciência do Solo quanto à geração de dados sobre a presença das mulheres nessa área e o estímulo à sua entrada e permanência. “É necessária uma abordagem consciente da ciência, multifacetada e integrada, além de mais ações afirmativas, adoção e promoção da diversidade e inclusão”, finalizou.
Beatriz é formada pela Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), com graduação sanduíche na Universidade do Porto. É mestra e doutora em Ciência do Solo pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e, atualmente, atua como pós-doutoranda em um projeto de pesquisa sobre modelagem e simulação do estoque de carbono em diferentes ambientes geoclimáticos do Sul do Brasil, também na UFSM. A pesquisadora trabalha com as temáticas das mulheres na ciência, equidade de gênero e inclusão no ambiente acadêmico e científico.