Texto: Equipe de Comunicação do INCT Caleidoscópio*
A programação do I Seminário do INCT Caleidoscópio e VIII Práticas Socioculturais e Discursos foi aberta, nesta terça-feira (29/10), com a conferência “Agenda de gênero no campo científico brasileiro: pesquisas, movimentos sociais e políticas públicas de C&T”, apresentada pela professora Miriam Pillar Grossi.
Grossi apresentou uma panorama histórico da luta das mulheres cientistas para inserção no campo científico. “Mesmo tendo ocupado número significativo de vagas no crescimento das universidades depois da reforma universitária de 1970, as mulheres estiveram à margem dos recursos do sistema de ciência e tecnologia e dos cargos de poder e representação acadêmica até recentemente”, ponderou a professora.
A conferência também trouxe algumas políticas públicas de Educação, Ciência e Tecnologia dos governos Lula e Dilma (2002-2016), consolidadas em programas como Gênero e Ciências (promovido pela Secretaria de Políticas para Mulheres e CNPq); abordou o “apagão” nos governos Temer e Bolsonaro (2016-2022) e analisou o impacto das lutas de movimentos feministas de mulheres cientistas como a RBMC (Rede Brasileira de Mulheres na Ciência) e o PIS (Parent in Science) nas políticas atuais da CAPES e CNPq e nas proposições aprovadas na 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Antes da fala de Miriam Grossi, houve um momento de solenidade com presença da Decana de Pesquisa e Inovação da UnB, Maria Emília Walter; da Secretária de Direitos Humanos da UnB, Deborah Santos; da Coordenadora-Geral de Bioeconomia e Ciências Exatas, Humanas e Sociais do Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação, Joana Nunes; e da Diretora da Secretaria Nacional de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política do Ministério das Mulheres, Andreza Xavier.
Mesa 1 traz panorama de pesquisas de pós-doutorandas do INCT Caleidoscópio
Após a conferência, na Mesa 1, composta por pós-doutorandas do INCT Caleidoscópio, as pesquisadoras Inara Fonseca, Morgani Guzzo e Zizele Ferreira apresentaram importantes reflexões sobre as conquistas e desafios do Instituto desde sua criação. Durante a Mesa, foi abordado sobre a construção da política de comunicação científica para o Caleidoscópio, com as estratégias e os desafios para um posicionamento feminista, amefricano e anticapitalista no modo de fazer comunicação científica; sobre como as ações do Observatório Sul-Sudeste do INCT Caleidoscópio têm possibilitado conhecer e aprofundar diversos aspectos que, historicamente, mantém a iniquidade de gênero nas ciências; e sobre pesquisa que investiga as trajetórias formativas de mulheres quilombolas e as violências interseccionais enfrentadas ao longo de suas jornadas acadêmicas na Universidade Federal de Campina Grande – Campus CDSA, em Sumé-PB.
“A Beleza é um Método”, com a frase de Christina Sharpe, Zizele Ferreira anunciou a estratégia encontrada para transformar as dores que atravessam as mulheres quilombolas entrevistadas (e dela própria enquanto uma mulher cientista negra) em poesia.
Comunicações simultâneas
No período da tarde, ocorreram seis comunicações simultâneas com distintos temas relativos à gênero, ciência e violências. Coordenadora da Comunicação Simultânea 4 – Políticas, Gênero e Sexualidade, Morgani Guzzo contou como as apresentações foram produtivas e potentes, pensando como as questões de gênero têm sido instrumentalizadas e distorcidas pelo campo conservador como estratégia de retrocesso dos direitos conquistados, criação de pânicos morais e desinformação.
“Dialogamos sobre estratégias de resistência diante desse cenário em que políticos atuam como influencers e as políticas públicas são constantemente ameaçadas em diversos âmbitos, tanto políticos institucionais quanto no imaginário social, disputado através da mobilização das emoções em plataformas de mídia digitais em um país que, cada vez mais, se vê confrontado com a desinformação e a disseminação de valores antidemocráticos”, completa.
Mesa 2 encerra com Núcleos Feministas do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM)
O primeiro dia do evento encerrou com mesa que reuniu o Núcleo de Estudos de Linguagem e Sociedade (NELiS), o Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre Mulheres (NEPeM) e o Núcleo de Estudos de Diversidade Sexual e de Gênero (NEDIG), do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM) da Universidade de Brasília, o primeiro centro de estudos avançados do Brasil, fundado em 1986.
Durante a mesa foi apresentado: 1) o contexto de criação do Núcleo de Estudos e de Pesquisas sobre Mulheres, vinculado ao Centro de Estudos Multidisciplinares (CEAM), em 1986, e seu impacto na construção de políticas públicas focalizadas para mulheres em sua pluralidade; 2) o trabalho que o Núcleo de Estudos sobre Diversidade Sexual e de Gênero – NEDIG/CEAM/UnB vem desenvolvendo para a produção de saberes através de uma perspectiva de pesquisa-ação que envolve, sobretudo, a comunidade LGBTI+ da UnB, os movimentos sociais, a rede de proteção a pessoas LGBTI+ no DF; 3) o trabalho do NELiS dentro da área dos estudos das linguagens frente a um contexto de ascensão de um discurso conservador, do aumento dos discursos de ódio e de polarização política.
* Matéria originalmente publicada no site do INCT Caleidoscópio.