Por Morgani Guzzo e Pedro Ordones
O número de mulheres atuando como pesquisadoras tem aumentado nos últimos anos. Segundo o relatório da Elsevier-Bori “Em direção a equidade de gênero na pesquisa no Brasil”, o número de publicações com autoria de mulheres cresceu cerca de 29% nos últimos 20 anos e, em 2022, aproximadamente 49% das produções científicas no Brasil tinham ao menos uma mulher como autora.
Além de apontar esse crescimento, pesquisas têm se debruçado sobre a trajetória de mulheres na Ciência e seu pioneirismo em algumas áreas. É o caso da pesquisa de doutorado de Lia Gomes Pinto de Sousa, realizada junto ao Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz e defendida em dezembro de 2023.
Intitulada “Mulheres que fazem ciência: oportunidades, pesquisa e carreira científica no Instituto Oswaldo Cruz“, a tese foi apresentada durante o Seminário do Observatório Caleidoscópio, que aconteceu no dia 25 de abril de 2024, de forma on-line. Segundo a pesquisadora, a tese objetivou compreender, a partir da trajetória de mulheres cientistas que trabalharam no Instituto Oswaldo Cruz entre 1938 a 1968, a profissionalização científica de mulheres no Brasil pós-guerra, as mudanças causadas por essa profissionalização, as características dessas mudanças e quais foram os condicionantes e os fatores que influenciaram a entrada das mulheres na ciência.
Nas conclusões da tese, a pesquisadora escreve: “A profissionalização científica das mulheres se deu no mesmo passo que a própria profissionalização da ciência, embora homens e mulheres não tenham se profissionalizado de forma equânime quantitativa e qualitativamente” (p. 280). Segundo ela, a entrada das mulheres nas carreiras científicas se deu também como reflexo de um período de grandes transformações, tanto nos papéis de gênero quanto no papel da ciência a partir de sua institucionalização.
Lia, que atualmente é pós-doutoranda do INCT-Caleidoscópio, vinculada ao Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), faz, com sua pesquisa, uma crítica à invisibilidade historiográfica das mulheres na ciência. Ao mapear 32 cientistas que trabalharam no Instituto Oswaldo Cruz no período estudado, Lia identifica as formações e áreas de atuação dessas cientistas, separando primeiramente pelo ano trabalhado, começando por Rita Lyrio Alves de Almeida, em 1938, e Maria Isabel Mello, em 1939 e depois por década, sendo 10 cientistas na década de 40, 16 na década de 50 e 4 na década de 60. Dentre as áreas de atuação, aparecem 17 áreas disciplinares diferentes de dois grandes grupos: aplicações médicas, voltadas para doenças e mudanças no corpo, e estudos da natureza, meio ambiente e taxonomia das espécies biológicas.
Na apresentação da tese, feita especialmente para o Seminário do Observatório Caleidoscópio, Lia também apresenta fotografias históricas de grupos de pesquisadores/as do Instituto Oswaldo Cruz, demonstrando a presença das mulheres através dos tempos. Confira o vídeo completo através do link do Youtube do INCT Caleidoscópio: https://youtu.be/b8u112n1sx8?si=2YmNO2awxBUXAbhw
Para ler a tese, acesse: https://ppghcs.coc.fiocruz.br/images/teses/tese_final_lia_gomes_souza.pdf.