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Com o Podcast “Mulheres Quilombolas nas Ciências: de quilombola para quilombolas”, cujas gravações foram realizadas concomitantemente com as entrevistas, a Incubadora tem como objetivo ampliar a difusão das contribuições significativas de mulheres quilombolas às ciências. Buscamos apresentar e comentar algumas das suas produções científicas, identificando as publicações nas quais essas contribuições foram divulgadas e dialogar sobre a trajetória acadêmica dessas mulheres. O podcast, que reúne mulheres quilombolas nas ciências, discute e troca informações sobre as estratégias adotadas para o enfrentamento das violências interseccionais que atravessam as trajetórias acadêmicas. Cada episódio possui duração de 20 minutos, com condução de Naryanne Ramos (quilombola de Vila Bela Santíssima Trindade). Até o momento foram gravadas e editadas três entrevistas com pesquisadoras quilombolas nas ciências, com doutorado concluído e em diferentes estágios de carreira científica, duas da região Nordeste e uma da Amazônia Legal. Das três entrevistadas, apenas uma delas atuou como docente no ensino superior público sem vínculo efetivo, sendo a demanda pela fixação de doutoras quilombolas no ensino superior público um tema que atravessou todas as entrevistas.

Nas entrevistas realizadas para o Podcast “Mulheres Quilombolas nas Ciências” são constantes as menções às violências interseccionais que aparecem desde o acesso à formação inicial no ensino superior até a pós-graduação. As participantes destacam desafios materiais, como conciliar trabalho, lar e universidade, enfrentar dificuldades financeiras na pós-graduação e lidar com os deslocamentos entre comunidade, trabalho e casa. Além disso, evidenciam disputas pela garantia da educação escolar quilombola, pela certificação da terra e pelo fortalecimento dos modos de vida quilombola por meio do registro oficial e valorização da memória, revelando a imbricada relação entre suas trajetórias e as lutas locais.

Para enfrentar as violências interseccionais no cotidiano acadêmico, as entrevistadas lançaram mão de estratégias fundamentadas na rede comunitária de suas comunidades quilombolas, na assistência institucional proporcionada por meio de bolsas da Capes e CNPQ durante a pós-graduação e nas estratégias de moradia coletiva. As entrevistas iniciais delineiam obstáculos consideráveis que se interpõem às trajetórias acadêmicas, denominados por elas como “desafios”, envolvendo distanciamento familiar, isolamento da comunidade e dificuldades financeiras para a permanência na pós-graduação.

As violências, expressas como “sofrimento”, “sofrido” e “luta”, são elementos recorrentes nas narrativas das pesquisadoras quilombolas doutoras. A determinação em seguir atuando na universidade se manifesta através da reiteração da “luta”, palavra que aparece reiteradamente nas entrevistas, como ilustrado nas afirmações seguintes: “Então as mulheres estavam sempre ali, na luta e na lida, e então essas mulheres, elas foram visibilizadas, né?”, ou ao considerar processos de educação diferenciada e organização para a luta e defesa de direitos, em frases como “Eu digo ‘vou lutar até o fim’”. Nesse contexto, analisando um cenário de constantes conflitos e resistências, emerge a afirmação da presença como uma luta: “A minha luta, ela não para, e ela não parará”, pois o cenário ainda é de ausência de garantias de direito, de esforços para serem reconhecidas em suas especificidades e completa noção de que à geração jovem fica a necessidade da continuidade do enfrentamento e da resistência em seus territórios.

“Sobrevivência” é uma palavra que emerge com o lugar de uma condição para a continuidade das trajetórias acadêmicas de mulheres quilombolas na universidade frente às diferentes violências interseccionais que se expressam nas universidades e fora delas. As experiências de violência impactam as mulheres quilombolas de maneiras distintas, indo dos conflitos pela certificação de terras e das ameaças às comunidades quilombolas (Souza, 2023) aos silenciamentos epistêmicos e políticos nos espaços acadêmicos que resultam em prejuízos à progressão nas carreiras científicas.

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