Por Morgani Guzzo e Pedro Ordones
Você já parou para pensar em que ano começaram a despontar as primeiras cientistas no Brasil? De acordo com o artigo Pioneiras da ciência no Brasil: uma história contada 12 anos depois, das professoras Hildete Pereira de Melo e Ligia Rodrigues, o advento das mulheres na ciência se acentuou na década de 70. Porém, apesar da década ser um marco importante, décadas antes, entre 1930 e 50, já havia mulheres trabalhando a ciência no Brasil.
É o que mostra a pesquisa intitulada “Gênero e ciência: a presença institucional das cientistas brasileiras em meados do século XX“, da pesquisadora Daiane Silveira Rossi. Segundo ela, a participação das primeiras mulheres brasileiras na ciência teve início com a criação das faculdades de filosofia, ciências e letras, que foram fundamentais para formação de mulheres que viriam atuar no meio científico em áreas como química, geografia e matemática.
A pesquisadora apresentou sua pesquisa, realizada durante o Mestrado no Instituto Oswaldo Cruz, durante a 2ª Sessão do Seminário do Observatório Sul-Sudeste do INCT Caleidoscópio – Instituto de Estudos Avançados em Iniquidades, Desigualdades e Violências de Gênero e Sexualidade e suas Múltiplas Insurgências, que ocorreu no dia 23 mês de maio, de forma on-line, e que pode ser acessado pelo Youtube do INCT Caleidoscópio.
Com o objetivo principal de quantificar e qualificar as cientistas brasileiras e sua presença institucional na ciência, Daiane fez um recorte do século XX, focando o estado do Rio de Janeiro em sua pesquisa. “A motivação que tive para realizar esse trabalho de pesquisa foi por perceber que havia uma ausência de estudos mais aprofundados que quantificassem as mulheres nas instituições de ciência brasileiras nesse período”, comenta a pesquisadora.
A pesquisa perpassa o processo de institucionalização da ciência no Brasil, a quantificação das/os cientistas da década de 1950 e, por fim, a compreensão de onde estavam essas/es cientistas. Como fontes, Daiane utilizou três mecanismos: os Inquéritos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) dos anos 1957, 1960 e 1965, a Base prosopográfica de cientistas no Brasil, do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), que estudou a atividade científica no Brasil nos períodos de 1951 a 1973, e os relatórios de bolsistas que participavam de programas de pesquisa da CAPES ou do CNPQ.
“As faculdades de filosofia foram um marco fundamental para a presença das mulheres na ciência, principalmente por sua consolidação, que vinha acontecendo no início da década de 30 até a década de 50”. Segundo a pesquisadora, o objetivo das faculdades era formar professores para o ensino secundário, oferecendo cursos de história natural, matemática, física, biologia, química, história, geografia, pedagogia, ciências sociais e filosofia, o que acabava por atrair jovens estudantes que buscavam um processo de formação e profissionalização.
A pesquisa de Daiane Rossi está em andamento em seu pós-doutorado junto à Casa de Oswaldo Cruz (Fiocruz), com o projeto “Mulheres nas ciências: profissionalização e trajetórias científicas (Rio de Janeiro – DF, 1940-1960)”. A pesquisadora é doutora em História das Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz – Fiocruz, é membro do grupo de pesquisas do CNPq “História da ciência e tecnologia no Brasil – 1945-2000”, liderado por Olival Freire (UFBA), e atualmente atua como professora na Universidade Franciscana (UFN).