Por Morgani Guzzo e Pedro Ordones
No Brasil, cerca de 2,9 milhões de mulheres já sofreram algum tipo de violência ou assédio, de acordo com dados da pesquisa Violência contra a mulher no ambiente Universitário, feita em 2015 pelo Instituto Avon em parceria com o Data Popular. Por isso, pesquisas como a desenvolvida pelo professor Diego Costa Mendes, do departamento de administração da Universidade Federal de Viçosa (UFV), têm buscado se debruçar sobre a temática e as ações de prevenção e enfrentamento às violências nas universidades.
“Tenho percebido uma limitação da compreensão quanto às especificidades do assédio e sobre como ele se materializa tanto em publicações e produções dentro do nosso campo de conhecimento, que é o da gestão, quanto em outras áreas do conhecimento”, comentou Diego durante a terceira sessão do Seminário do Observatório Caleidoscópio do Observatório Sul-Sudeste do INCT Caleidoscópio – Instituto de Estudos Avançados em Iniquidades, Desigualdades e Violências de Gênero e Sexualidade e suas múltiplas insurgências, que ocorreu de forma online no dia 28 de junho de 2024.
Assista à apresentação completa aqui.
Intitulado “A problemática do assédio no ambiente universitário brasileiro: primeiros passos rumo à prevenção e ao enfrentamento”, o projeto de pesquisa que está iniciando tem o propósito de se tornar um referencial para as instituições de ensino superior (IES), tendo como principal objetivo mapear e divulgar as boas práticas já implementadas para auxiliar as demais universidades no enfrentamento às violências, principalmente o assédio, além de promover o acolhimento às vítimas.
Em suas análises, o pesquisador identificou que a dificuldade de enfrentamento ao assédio nas universidades se dá devido a diversos fatores, como: as conformações na organização universitária: estrutura e cultura tradicionais em contraposição ao estímulo da produção de conhecimento inovador; as complexas relações de poder; o sentimento de lealdade dos servidores à instituição; o medo de retaliações, além da sensação de impunidade.
“Há uma cultura de tolerância ou negligência, tentando proteger a imagem institucional da universidade, o que leva as vítimas a hesitar em formular suas queixas, principalmente por falta de confiança nas instituições ou medo do que pode vir a lhes acontecer”, afirmou o pesquisador. De acordo com pesquisa realizada por Bianca Spode Beltrame, doutora em administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2018, cerca de 70% das universidades no Brasil ainda não tinham políticas de enfrentamento às violências.
Diego ainda apontou algumas das intervenções que seriam necessárias para tornar a universidade um ambiente saudável e livre de violências, como a criação de canais seguros e acessíveis para denúncias, a aplicação de medidas disciplinares efetivas contra assediadores, políticas claras de combate ao assédio e suporte psicológico às vítimas.
Diego Mendes é doutor em administração pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), coordenador da graduação em administração da UFV, pesquisador das áreas de gestão de pessoas, estudos organizacionais e marcadores sociais da diferença e integrante do Grupo de Investigação sobre Trabalho, Gestão e Diferenças (GID), do Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Gênero da UFV (NIEG) e do grupo Discursos e Estéticas da Diferença (DIZ).