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Pesquisa analisa o impacto da pandemia para mães quilombolas e indígenas estudantes da Educação do Campo na Unipampa

Durante a sexta sessão do Seminário do Observatório Caleidoscópio, no dia 25 de outubro, Suzana Cavalheiro de Jesus apresentou sua pesquisa “Mães, crianças e Ensino Superior: notas etnográficas sobre políticas de cuidado na Educação do Campo”.

Imagem de divulgação do Seminário do Observatório Caleidoscópio. Créditos: Morgani Guzzo/Observatório Sul-Sudeste.
Imagem de divulgação do Seminário do Observatório Caleidoscópio. Créditos: Morgani Guzzo/Observatório Sul-Sudeste.

Por Morgani Guzzo

A pandemia de Covid-19 impactou diversos âmbitos da nossa vida, pessoal e profissionalmente. Este impacto, no entanto, foi ainda maior para mulheres responsáveis por pessoas que precisam de cuidado, como crianças, idosos e doentes (EMIDIO et al, 2021; COPATTI et al, 2023). 

Historicamente, os feminismos e os estudos de gênero têm demonstrado a diferença entre mulheres e homens na dedicação aos trabalhos de cuidado e manutenção da vida (incluindo tarefas domésticas, entre outras). Também está demonstrado o quanto essa desigualdade impacta no acesso das mulheres a determinados espaços e na ascensão de suas carreiras. Na pandemia, quando tudo se concentrou no âmbito doméstico e as crianças não tinham como ir à escola ou creche, esse impacto se aprofundou, sobrecarregando ainda mais as mães.

O olhar atento a esse aspecto no contexto da Educação do Campo provocou a pesquisadora Suzana Cavalheiro de Jesus a investigar de que forma o período da pandemia de Covid-19 transformou a rotina de estudantes mães no campus de Dom Pedrito da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), no Rio Grande do Sul. 

“A pesquisa, que intitulei ‘Mães, crianças e Ensino Superior: notas etnográficas sobre políticas de cuidado na Educação do Campo’, buscou compreender de que formas o ensino escolar remoto impacta o cotidiano de crianças e mães (universitárias) que vivem em um quilombo e em uma aldeia indígena”, explicou Suzana durante sua apresentação na sexta sessão do Seminário do Observatório Caleidoscópio, realizado no dia 25 de outubro de forma virtual.

Assista a apresentação completa em nosso canal do Youtube:

Pesquisa interessou a participação de mulheres indígenas e quilombolas

Conforme Suzana, a ideia foi construir a investigação de forma colaborativa, e o interesse em participar da pesquisa surgiu de mulheres indígenas e quilombolas, sendo elas Mariglei Dias de Lima (Quilombo Rincão da Chirca), Fabiani Franco de de Alves (Quilombo de Palmas), Dirce Vicente (Indígena Kaingang) e Sueli Kengre Candido (Indígena Kaingang).

A metodologia da equipe consistiu em registrar, por meio de relatos escritos e produções fotográficas, o cotidianos doméstico dessas mães e suas filhas e filhos (crianças em idade escolar) que vivem em áreas rurais da campanha gaúcha e em uma terra Indígena do Norte do estado do Rio Grande do Sul e analisar conjuntamente os registros realizados, com vistas a compreender as dinâmicas do espaço doméstico e do ensino escolar remoto, no período de pandemia de Covid-19.

A pesquisadora comenta que um dos aspectos relevantes deste momento na vida dessas mulheres foi a necessidade de sua atuação na comunidade. Sendo muitas delas líderes comunitárias, as demandas coletivas, além das tarefas de cuidado, fez com que algumas não retomassem o curso após o retorno das atividades presenciais na Unipampa.

“É necessário reforçar que foi um período também de adoecimentos de docentes, o que impactou no retorno das atividades ao final da pandemia, e de desmantelamento do orçamento da universidade, que precarizou muito a assistência estudantil e fez com que muitas dessas estudantes também tivessem que se afastar da universidade. Houve muitos trancamentos de matrículas e prorrogações. Também foi perceptível  os diferentes olhares sobre as crianças, não só no interior das famílias, das casas, mas nas instituições. Quando a gente volta para a universidade, as crianças, num primeiro momento, foram muito bem recebidas, com um acolhimento profundo por parte, inclusive, da gestão superior da universidade. Porém, num segundo momento, a gente tem uma recomendação de que as crianças não acessem a moradia estudantil, por exemplo”, relatou.

Desafios da pandemia no trabalho de cuidado, na universidade e no território

A pesquisa demonstrou que as dificuldades foram tanto “de dentro”, isto é, relativos às questões do cuidado em si, quanto “de fora”, que impuseram contextos ainda mais desafiadores a essas estudantes mães. 

“Entre os desafios internos, apareceu a administração do tempo, o sentido de cuidar, entender o lugar da escolarização e do trabalho das mulheres na comunidade, e a percepção da maternidade na construção da autonomia das crianças, isto é, perceber que os filhos não estavam dependentes delas o tempo todo. Já com relação aos desafios externos, identificou-se a demora na vacinação da população, as dificuldades inerentes à defesa do território, como o reconhecimento das terras quilombolas e a demarcação das terras indígenas, o enfrentamento ao garimpo ilegal, aos desmatamentos, arrendamentos, pulverização aérea, projetos de megamineração e dependência das estruturas do agronegócio”, relatou Suzana.

Suzana Cavalheiro de Jesus é doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Possui graduação em Educação Especial, graduação em Sociologia, especialização em Gestão Educacional e mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Atualmente, é professora adjunta da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), no Curso de Educação do Campo – Licenciatura (Campus Dom Pedrito) e no Programa de Pós-graduação em Ensino (Campus Bagé). É líder do Grupo de Pesquisa “Tuna: gênero, educação e diferença” (CNPq/UNIPAMPA). Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em Etnologia Indígena e Antropologia Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: teorias indígenas do conhecimento, educação escolar indígena, educação do campo, infância, políticas públicas, marcadores sociais da diferença e suas interseccionalidades. 

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